quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Lágrimas





Lembranças,
Agora são cinzas.
Gostaria que voltasse,
Relembraríamos de Minas.
Irei até sua casa,
Mas não me receberá.
Ainda sinto saudades,
Só o que me resta é chorar.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O fantasma literato

Eu nunca fui um bom falador, nem um orador, nem nunca dominei a retórica como deveria. Quando as palavras saem da minha boca, um punhado delas faz sentido e se organiza razoavelmente de acordo com a semântica e com a sintaxe. Entretanto, sempre chega o momento em que elas se embaralham, e eu me torno tão ininteligível quando caligrafia japonesa para um ocidental.

Não interessa no momento expor os motivos que me levam a ser assim. Certamente são muito mais complicados para os meus quase inexistentes conhecimentos em psicologia, antropologia, sociologia ou alguma outra ciência que se atreve a explicar o humano. Mas eu sou assim. E infelizmente não sei ser diferente.

O Princípio de todas as coisas, Justo, dignou-se em compensar minha falta de eloquência com certa proficiência em escrever. Eu escrevo certo as linhas tortas da vida, e por algum motivo as minhas palavras tocam os corações sensíveis. Eu sinceramente não sei como eu o faço, mas por vezes, acontece. Acontece que nem sempre este "toque" encontra seu lugar no mundo real, sendo apenas uma boa idéia do mundo... das idéias!

Por quase uma década eu escrevi, escrevi e escrevi. Idéias bonitas, Idéias que qualquer bella donna do século XIX lograria trazer do mundo das idéias ao mundo real em questão de segundos. Mas a minha proficiência falhou. Na verdade, como chamar de falha algo que é semelhante a tudo que sempre aconteceu? Quando muito, devo chamar este acontecimento de "a normalidade mais triste".

Minhas palavras e letras proliferam-se como mosquinhas ao redor da lâmpada numa noite quente. Mas não há tranças descendo do topo do castelo, nem realezas numa cama, rodeada de duendes, esperando um cavaleiro descer de seu cavalo e acordá-la do pesadelo venenoso. Talvez porque não haja lugar no mundo para contos de fadas. Contos de fadas são para crianças. Mas por acaso, o mundo não seria mais leve se nós o olhássemos com os olhos de um infante? Enfim...

O amor é uma coisa séria. Ele não tem explicação, ele cega e dá a visão. Ele escraviza e liberta. Ele causa doenças, e traz a cura. Ele mata, e ressuscita. Ele pode ser o céu ou inferno. Ele pode ser um rebuscado tocar de violinos, ou pode ser o ruído estridente de um pedaço de giz no quadro-negro.

Para mim, por quase uma década ele foi a escravidão, a cegueira, a doença, a morte, o inferno, o som agudo da solidão e do abandono. Certa vez, falaram-me de um certo fantasma da ópera, que sequestrou sua amada soprano no meio de uma opereta. Por outro lado, eu sou senão um fantasma literato, que cura suas feridas porque não há mais o que sequestrar.

Por alguns dias, senti ódio. A linha tênue entre o ódio e o amor desaparecera, e eu passei a odiar. Em seguida, o ódio passou a ser desprezo. Mas um desprezo mais ácido do que aquele que fora dispendido a mim. A acidez foi diminuindo sobremaneira, e hoje o que restou é indiferença. Mas fantasmas também possuem seus fantasmas, num círculo vicioso ectoplásmico de noites mal dormidas, corações apertados e dedos nervosos para enviarem um e-mail, um sms, uma carta. Escrita sempre. Lembram-se? Não tenho talento para a retórica e eloquência.

O coração apertado da espera de uma resposta é um fardo muito pesado. E quando aquela pessoa de quem você espera te tortura com adiamentos e silêncio como resposta, é o fim do mundo, e este comportamento é uma amostra do caráter do qual nós pintamos uma imagem totalmente diferente e, obviamente, falsa.

Amigos, escrevam vocês mesmos seus evangelhos. Sejam para si mesmos a Boa nova que salvará as suas almas do desprezo de terceiros. Amem-se. E se quiserem ser literatos, sejam! Não há mal nenhum em saber se expressar melhor com a caneta na mão do que com verbos na boca. Mas não se tornem fantasmas penando atrás de alguém. Palavra de quem, só depois de muito tempo, engatinha rumo à liberdade que tanto anseiou.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Chuva Fina


Gotas adornam os vidros,
O passar dos carros levanta respingos,
O céu cinzento me inspira incerteza,
E junto com ela demasiada tristeza.

Sonho com dias de céu azul,
Quando possuía seu corpo nu.
Mas o tempo passou trazendo cobranças,
E agora só me restou a carranca.

O horizonte,
Agora nublado,
É o prelúdio de dias fechados.

Aquela carta,
Que não chegou,
Continha a essência do que sobrou.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Invadidos

Era uma noite de verão, quente, sem núvens no céu e com a lua brilhando plenamente em esplendor. Eu e alguns amigos e amigas acampávamos na praia. Éramos em torno de nove pessoas, e estávamos nos divertindo bastante ao som de um velho violão, cantando canções que há muito não se ouviam na rádio.

De repente, viu-se algo estranho na lua. Uns discos luminosos dela saíam e chegavam à praia numa velocidade surpreendente, como se nada fossem os trezentos e oitenta mil quilômetros que nos separam de nosso satélite. Eu estava afastado do grupo, admirando o mar, sentindo o cheiro de maresia que me trazia tantas lembranças. Quando percebi o problema, corri com todas as forças que tinha, embora ainda assustado, para dentro da nossa tenda, onde estavam todos os meus amigos que, assustados pelo estranho fenômeno, desistiram de ficar sob o olhar indiscreto das estrelas.

Na hora em que entrei na tenda, perto de nós um daqueles estranhos discos pousou. A histeria tomou conta de todos. Um ser esquisito entrou também na tenda, e o pânico foi geral. Uma voz robótica, meio metálica, disse-nos para não ter medo. Ele era um dissidente do povo que estava a invadir a terra. Disse que era contra o total extermínio dos terráqueos, e que, apesar de ser necessário para a sua raça a tomada do nosso planeta azul, defendia que era preciso conservar parte da espécie, para que pudesse crescer noutro planeta semelhante à terra.

Deu-nos, então, a sua nave, que estava programada para partir até um outro planeta, segundo ele, semelhante à terra. Disse-nos que teríamos bastante tempo para criarmos uma nova civilização, já que levaria milênios até que os alienígenas invasores pudessem esgotar todos os recursos do nosso planeta. Entramos todos, tristes e abatidos. Mas com a promessa e a esperança de que faríamos uma civilização melhor...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

De leve

Lá vem ele, maria fumaça louca
Com sua canequinha soturna
Olhar profundo, paciência pouca
Presença diária, vespertina e noturna

Vem gritando como um insano
Ou rindo como um psicopata
 Não dorme há mais de um ano
Mais ciumento que mamãe pata

Sente-se as pisadas enfurecidas
Dos seus pés, pela pressa tão zelosos
Distribuindo sentimentos suicidas
Aos seus vassalos melindrosos

Ele vem, descendo pelos montes
E seu cabelo é branco como a neve
E os seus olhos são como os de rinocerontes
Ele vem, incendiando tudo de leve


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Solidão Marinha


O cheiro salgado do mar,
Lembra o gosto de minhas lágrimas.
E quando vou à praia meditar,
Elas se misturam com as águas.

São muitos caminhos a se trilhar,
Para onde quer me guiar?
Quando chorei, não estava lá,
Como poderei confiar?

Mergulhei no profundo mar,
Uma onda me pegou.
Depois de tudo, me afogar?

Ainda não descobri o amor.
De noite, na solidão de minha cama,
Rezo e sinto saudades de quem diz que me ama.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Antropônimo

Sou um João solitário
Quando em paz, viro Pacífico
Se sou herege, torno-me Ário
E Crisóstomo, se sou prolífico

De muitos nomes vive o homem
Sou, assim, Manoel, ao assar o pão
Quando a paciência e a calma somem
Faço guerra chamando-me Napoleão

Se este soneto tivesse nome
Reza a lógica dos substantivos:
'Chamaria-se heterônimo'!

Mas como morre de fome
Quem do raciocínio quer donativos
Diga-se apenas: 'Chama-se antropônimo'!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Aequilibrium



Quando aquilo que amava,
Já não é mais permitido,
O que fazer?

Quando o beijo que esperava,
Se converte em fel ressentido,
O que temer?

Quando o amigo que confiava,
Se torna o perverso inimigo,
Como não sofrer?

Quando tudo que importava,
Perde todo o sentido,
O que querer?

A vida nos dá,
A vida nos tirá.
Buscas felicidade?
Tenha ousadia.
Quer ser feliz?
Entrega tua vida.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Matrioshka

Ad infinitum, ao infinito eu sigo
Neste brinquedo sempre surpreendente
Ouço Zenão comunicando-se comigo
Pelo diálogo icônico na mente

O sorriso delas é inocente
E ao mesmo tempo, sombrio
Como uma verdade que mente
Como um calor que causa frio

Pequenas e cada vez menores
Ensinam-me estas danadinhas
Que somos sempre melhores
Nos livrando de inúteis casquinhas

Do tamanho de uma noz
Ela sorri, mestra na simplicidade
Ensinou-me a desaguar tristezas na foz
Ao procurar infinitude na eternidade

Minha matrioshka tão mestra
Almejo mudar sem sofrer perda
E que não saiba a minha destra
O que planeja a minha esquerda!

Spaciba! 


domingo, 2 de dezembro de 2012

3ª pessoa feminina do singular

Abro a gramática a tua procura
Quando a esperança, sorrateira, me abandona
Em pretéritos mais-que-(im)perfeitos procurei a cura
Num futuro do perfeito está la bella donna

Tudo parece uma semântica perdida
Embaralhada numa sintaxe confusa
A procura de uma vida vivida
É um filme de mensagem obtusa

Vesti-me num ente abstrato linguístico
Um índice de indeterminação do sujeito
Para escapar do pesar altruístico
De saber que sou assim, tão imperfeito

Talvez não me haja merecimento algum
Além do vazio peremptório do lar
Mas, obstinado, busco num "a" ou num "um"
Uma terceira pessoa, feminina - e ainda oculta - no singular.

Para Ela



Razões para o amor?
Ainda não descobri.
Quero sentir este ardor,
Um sentimento que nunca senti.
E você me veio louca...
Lhe digo: não resisti.

Também sente o que sinto?
E essa saudade...que abismo.

Agora, mais que nunca,
Me declaro de joelhos a você.
O meu coração numa bandeja?

Diga, e você vai ter.
Olha como está linda a noite,
Irá comigo passar o pernoite?
Depois da madruga, o prêmio:
Acordar com você.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Móveis


O short florido do cobrador da van,
Me faz lembrar das flores do jardim.
Que minha vó cultivava toda manhã,
Quando você se esqueceu de mim?

O óculos vintage da menina de saia riscada,
Reluz a luz no capuz de avestruz.
Quando te pedi para ser minha namorada,
Vi que seu machucado não tinha pus.

A van cruzou a ponte,
A baía não é Aqueronte,
Mas cumpriu o papel infernal.

Caiu lá de cima e morreram todos,
Mas para o seu total desgosto,
Desci antes do ponto final.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Automático autômato

Esvaziou-se no cansaço minhas reservas
Por defeitos alheios, veio-me a fadiga
A luz que me guiava, tornou-se trevas
Dizem que precisam de férias... Eu que o diga!

Engrenagens que moem-me os ossos
Cartilagem que em óleo se torna
Sou eu, limitado em esforços
O horror que à peste adorna.

Quero, e vou, saltar a outros galhos
Tal qual macaco peralta e arteiro
 Neste aqui, já estou em frangalhos
Quero a unção sacrossanta do oleiro

Nada irá consertar-se sozinho
Então vou-me a um novo horizonte
É preciso ousar no caminho
E subir, mui contente, ao monte

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Súplica


Meu coração se despedaça entre seus dedos.
Você desperdiça os meus suspiros,
E o palpitar em meu peito.
Você não percebe o que você tem?
Não consegue ter idéia,
De quanto me custou tudo isso...

Eu me entreguei...a ti.
Então faça valer, não me abandone,
Olhe nos meus olhos, veja a lágrima cair,
Vamos lá!
Eu confiei meu último suspiro a ti,
Então vamos,
Não desista...
Por favor!
Minha vida está em suas mãos.
Meus sonhos despedaçados por onde você pisa...

Preciso retornar, cometi um erro,
Um engano...
Não há retorno, quando se apaixonou.
Então por favor,
Olhe em meus olhos,
Não me abandone.
O mundo se acaba e você não percebe,
Olhe para mim...
Em meus olhos...
O brilho se esvai aos poucos,
Então segure minha mão,
Por entre meus dedos,
O que é de fato importante para ti?

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mil vezes


Vergonha: Se em meu roteiro, não te ensaio!
Auto-piedade: Se em meus versos, não te canto!
Pois se, por mil vezes, não resisto e caio
Em mil e uma vezes, eu me levanto!

Sendo humano, minha tendência é ir ao chão
Mas por esta mesma natureza, devo voar
Pois mesmo que o erro chegue à enésima repetição
Num enésimo momento, com ele aprenderei a lidar

Apesar de tudo, ridicularizamo-nos tolamente
Numa fraternal e patética cegueira velada
Vêm isto do não saber da alma e da mente
Razão da miséria humana, da guerra declarada

Mas se por mil vezes eu descer com o rosto por terra
Não me preocuparei com a celebração do "eu já sabia"
Na milésima primeira vez ainda há quem erra
Levanto meu corpo junto ao ar que subia

E como fumaça de incenso subo às alturas
Sem medo de que, se condensado, desça aos pingos
Por mil vezes experimentei as amarguras
E como Cristo, ressuscitei sempre aos domingos

Celebra comigo a milésima queda
Para comemorar em seguida mil e uma ascensões
De erro em erro acumulo uma moeda
Para comprar um lugar entre os campeões

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Fogo de Desencanto


Ela gostava de móveis coloniais,
E dizia gostar de Tom Jobim.
Nação Zumbi norteava seus ideais,
E ouvia Los Hermanos no bar do Bin.

No circo voador,
Ela se emocionou e chorou,
Ouvindo a música "oração",
De uma banda sem noção.

Me apaixonei sem conhecer,
E acabei por me envolver,
Com essa "móveis" sem querer.

Eu estava apaixonado,
Mas rompi frustrado,
Quando me fez ouvir "Cordel do Fogo Encantado".

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Vlad

Incompreendido, fostes transformado
Num monstro de caninos pontiagudos
Deixo o politicamente correto de lado
E rio ao ver, empalados, cadáveres mudos

Ousaram eles barbarizar a tua terra
E contra eles, não tivestes perdão
Nunca houve outra chance a quem erra
Enormes estacas foram seu galardão

Eu sei que ele, vitorioso, gargalhava
E não tolerava crimes nem entre os seus
Com terror ele governava
Garantindo paz aos valáquios plebeus

Por detrás do Danúbio ficaram os otomanos
Tremendo diante da tua mão forte
Teus métodos pareciam insanos
Mas insano era o destemor inimigo à morte

Salvou o ocidente, o empalador!
Dos opressores da Ásia Menor!
Vida longa ao imperador!
A eternidade é sua conquista maior!

Imagino Vlad, se fosse hoje vivo
Empalando os vermelhos, deixando-os brancos
Cada gota de sangue sob o seu crivo
Disciplina! Ou estaca dos glúteos aos flancos!



domingo, 25 de novembro de 2012

Fred, Saudades



Vinte e um anos que você se foi.
Mas sua voz segue viva em meu peito,
Às vezes a saudade até dói,
E para aliviar só há um jeito...

Lembrar que "O show não pode parar",
Que você foi meu melhor amigo.
Que Deus nos enviará alguém para amar,
E que o jogo do amor é um desafio.

Você se foi Fred, mas quem irá te parar?
Você risca os céus como Lady Godiva,
É uma vida difícil, mas vamos nos libertar.
Pois há um tipo de mágica, quando ouço Radio Ga Ga.

Você cantou minha vida,
Sou grato a você.
Lamentarei sempre sua partida,
E espero um dia, além, poder te ver.

Desordenado

Como o planeta-x e Nibiru
A destroçar mentes incautas
Corta-se o pescoço do peru
Afunda-se a nau dos argonautas
E toda esta desordem natural
Ao entranhar-se assim, casual
Na minha imagem se apresenta
Assim feia, como se aparenta!

É inadmissível saborear o destino
Se aos poucos definha a nossa estrada
Tijolo por tijolo, do barro mais fino
Minha via, assim mesmo extraviada
Mas em minha mão ainda repousa
Como garranchos na lousa
O poder cedido do Alto
De trocar tijolos por asfalto

Decreto a expulsão da desordem
Desordenado, nunca mais
Quero em mim a beleza da ordem
O navio zarpando no cais


sábado, 24 de novembro de 2012

Solidão Madrugada



Sonhei na madrugada que morri,
Três dias após meu aniversário.
Confesso, um pouco sofri.
Chorei e rezei o rosário.

Quinze para as quatro,
Onde está você?
Não se encontra em meu quarto,
Minha companhia é a TV.

Medito por alguns minutos,
Volto a dormir.
Transtornado, coração acelerado,

Terrivelmente angustiado.
Palavras vazias.
Quem tem saudade, mata e fim.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Jogos de Amor


Ele chegou, nos 15 minutos do primeiro tempo,
O técnico o convocou por telefone, e ele estava lá.
Ao vê-lo ela suspirou. Pensou que não fosse ele, mas tomou provas.
Era ele.
"Amor, estava morrendo de saudades".
Conversaram horas a fio, e o técnico observava.
O gol não saiu. Não naquele dia.
Mas já estava guardado,
Em algum lugar.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Licença Poética

Tu sempre fostes minha salada com farinha
A fibra lisa do meu cadarço
O milho verde da minha galinha
O gelo do meu mormaço

Mas então viestes, desdentada
E mordestes, com as gengivas nuas
De minhas mãos, um dedo cada
Como se fossem bistecas cruas

Tu eras o arado do meu geiser
A fruta do meu mar
Mil grãos de raios laser
Plantei, para te ver brotar

E só colhi desfeitas
Furacão e desavença
E confirmadas minhas suspeitas
Apenas peço-te licença...

...poética, por favor!


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Busum


Poucas pessoas

Viagem tranquila
Olha à direita
À esquerda
E o ônibus segue
Naqueles minutos
Enfeitiçados pela paisagem
Pela estrada
Seus destinos se perdem
E eles se permitem divagar
Sonhar?
Talvez

O poeta observa
Pega o que tem à mão
E proseia
E ele mesmo se perde
Quando dá por si
Volta a escrever
E observando as faces
Tenta imaginar
Onde estarão?

Uma moça bonita entra
A contemplo
Sinto seu perfume
E sei que dentro em pouco
Também ela
Divagará.

domingo, 18 de novembro de 2012

Wake Up Alone - Parte 2

P - A - T - R - Í - C - I - A. Eu meio que sonhava, enquanto lembrava a maravilhosa noite que tivemos. Meio grogue, abri os olhos e estranhei: você não estava lá. A cama vazia, e eu acordei sozinho. Fui ao banheiro do hotel e lá estava você, na banheira, com o corpo todo submerso, imóvel. Fiquei estático, assustado, e por instantes percebi que não sabia muito de você. Era a primeira vez que transava com alguém na mesma noite que a conhecia, e me assustei. Fui caminhando lentamente até você, e então você emergiu. Respirou fundo, me olhou e resmungou para si mesma, "Droga, oito minutos". É Patrícia, ali tive o primeiro indício de sua paixão, o mergulho. Você era mergulhadora amadora, e tinha como hobby apnéia. Você sorriu para mim, cantarolou "Wake Up Alone" e gracejou, me chamando de dorminhoco e dizendo que eu roncava. Convidou-me para ficar contigo na banheira e se aconchegou em meu peito. Acariciei seu cabelo, e contemplei seu rosto, agora já sem a maquiagem. Você, apesar dos 22 anos, parecia um bebê, e inspirava cuidados. Naquele momento jurei que iria cuidar sempre de você, fiz um juramento para mim mesmo e para os deuses que quisessem me ouvir, e segui à risca este juramento Patrícia. Olhando para seu rosto naquele momento, vi uma lágrima rolar, ou seria uma gota d´água? Ficamos ali, imóveis, você recostada em meu peito e eu te envolvendo com meus braços, até que a telefonista ligou, dizendo que o período havia acabado. Nos arrumamos rápido e saímos. Estávamos na Tijuca. Não sei por qual motivo, mas futuramente você passaria a odiar aquele hotel, e nunca mais voltamos lá. Você sempre foi assim Patrícia, você amava ou odiava sem motivos aparentes, e era firme em suas convicções. Um dia você decidiu me odiar, e me magoou bastante. Mas não durou mais que duas semanas. Mas isso é outra história. Quando saímos do hotel pegamos um táxi, você morava perto, na Tijuca mesmo. O táxi te deixou em casa e segui nele de volta para a praça Saens Peña. Peguei o metrô e fui para Cantagalo. Passei na casa de um amigo que morava ali perto e fomos para a praia, onde contei a ele sobre a louca noite, e permiti que as ondas me enfeitiçassem. Não estava muito sol, e a praia não estava cheia. Eu deitava, o sol fraco me ofuscava os olhos, e cada vez que uma nuvem o cobria eu desenhava seu rosto em minha mente e soletrava seu nome. Você, a partir daquele dia, se tornou meu mantra. Você foi minha benção e maldição Patrícia. E ainda hoje, com mais tranquilidade, medito sobre tudo o que passamos.




sábado, 17 de novembro de 2012

Agonia


Mais uma noite sem dormir.
Onde estará ela?
Não sei, decidiu sumir.
Vejo seu rosto em cada janela.

Baco sussurra em meus ouvidos:
"Vai, toma um trago".
E mergulho em mil abismos,
Buscando seu derradeiro afago.

Abro a janela,
Olho a lua.
E louco, converso com ela.

Embriagado, vou pra rua,
Caio num beco enlameado,
E alucinado, a vejo vindo nua.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Coríntios revisitada

Se não há soberba que o vença
Nem vaidade que o seduza
Porque a distância ou a doença
Fazem com que ele se reduza?

Se ele não busca o que lhe interessa
Muito menos o que lhe convém
Como não existe uma só promessa
Sobre ele ser eterna fonte de bem?

E se ele não mente
E se ele tudo crê e tudo suporta
Por que todo coração que o sente
Se quebra todo num bater de porta?

Basta um dissabor
Uma circunstância casual
Para que o tal do eterno amor
Apodreça como algo banal

Talvez aquele sábio homem
De Tarso, filho feliz
Não falasse daqueles que somem
Ao empinar, de pronto, o nariz

Declaram-no eterno à tarde
Na despedida noturna, ele acaba
Ferida cardíaca que arde
É a casa do amor, que desaba

Era ilusão quando em partes te via
Então te vi, por fim, face a face
Percebi quando sua boca sorria
Que isso não passava de um cruel disfarce

Se por acaso ver é sentir
Se mil condições te pões a invocar
Resta-me então, triste, concluir
Que nunca soubestes, ou sabes amar.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Lembranças



A pedra era tão bonita,
Que me conquistou,
Fiquei aqui.

E apesar do barro,
Da lama, que engana,
E da poeira fina,
Apaixonei-me.
Sorri.

Campos verdes,
Vaca, cavalo, boi.

Ê menino, tá ouvindo o sino?
É o padre lá na igreja,
Chamando pra rezar.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Visceral (ele e ela)

E ele lembrou-se de tudo.
Ele era só mais um.
Sofria Bullying dos colegas na escola.
Apanhava sem motivos, do pai e da mãe, em casa.
Não queria saber de macarronada aos domingos.
Nem de levar copinho d´água para a irmã,
Quando ela acordava de um pesadelo.
Era apenas mais um rebelde, só que com muita causa.
Tudo isto haveria de se converter em problema.
No âmago do seu ser, havia amor.
Surgiu então ela, uma "redneck" recém transferida para a escola.
Ele agora comportava-se, e ela sorria para ele.
Passou a levar copinhos d´água para a irmã.
Convidou-a para o almoço dominical na sua casa.
Problema nº 1: Ela não comia macarronada.
Problema  nº 2: Não havia outra coisa para comer.
Problema nº 3: Mimada, saiu correndo pela porta.
Ele a chamou, preocupado.
Declarou seu amor para ela.
Problema nº 4: Ela gargalhou.
Problema nº 5: Falou que nem em mil anos ficaria com ele.
Problema nº 6: Ela completou dizendo que vai ter um encontro com um jogador de futebol americano da escola.
Ele disse que estava tudo bem.
Completou dizendo que tinha um bolo de chocolate em sua casa na árvore.
Disse ainda que queria compensá-la pela limitação do cardápio.
Convidou-a, assim, para subir na árvore.
Problema nº 7: Ela aceitou.
Ela subiu na casa da árvore. Ela estava de saia.
Problema nº 8: Ele viu seus fundos e teve desejos.
Ela chegou lá em cima.
E não viu nada.
Mal virou as costas e levou uma pancada violenta.
Ele fez coisas inenarráveis com ela.
Após fazer coisas inenarráveis, pegou a motosserra do pai.
Fez em pedaços o corpo dela.
Seu ódio advinha de tudo que vivera.
Tirou-lhe as vísceras.
Apertou-as e, com sangue, colocou num pote.
Lavou-se com a mangueira no quintal.
Entrou com o pote em casa, dizendo à mãe:
Mãe, eis o molho de tomate para a macarronada de domingo que vem.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Liberto




Quando eu morrer,
Findo o derradeiro alento,
Se um anjo não me socorrer,
Piedoso de meu sacramento,
Eu dormirei o sono dos condenados.

O demônio me queimará ao tocar,
Meu corpo alimentará a chama infernal,
Em cima de mim sodomitas irão bailar,
E não terei direito sequer a um tribunal.

Mas enquanto estou vivo,
Quero lutar e correr.
Não me entrego ao marasmo nocivo,
Decidi que nasci para vencer!
A praga hodierna foi lançada:
"Quer ser feliz? Basta querer!"

E agora, renovado,
Sigo com meu mantra atual:
Deixe estar, viva sua vida,
Intensamente, até o final.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Rosas mortas

Num pensar esquizofrênico
Junto raiva e desprezo
Venenoso como arsênico
Faço-as sentir, da minha mão, o peso

Se dentre vós pudesseis ver
Entre a penumbra do meu ser
Veríeis, atônitos, parecer
Que elas, entre si, nada têm a ver

Mas faço com elas um bolo
Pois são farinha do mesmo saco
E assumo todo meu dolo
Porque delas, tenho asco

E se de asco eu pudesse morrer
Resistiria com todo meu ser
Pois prefiro na Terra sofrer
A, por elas, desaparecer

Uma atormenta o presente
A outra é flagelo do meu passado
Tenho por uma ressentimento ardente
Por outra, raiva pelo desprezo a mim dado

Uma leva rosa no nome
A outra, espinhos na alma
E como o faminto, consumado pela fome
Tento livrar-me delas...

... mas falta-me a calma.

domingo, 11 de novembro de 2012

Entardecer



Ouço os pássaros,
Tomo café.
Saio com amigos,
Leio Robinson Crusoé.

Deito na rede,
Toco minha gaita.
Olho a parede,
Ainda sinto sua falta.

Mas está entardecendo agora,
E o coração não dói mais.
Quanta gente bonita lá fora,

Já se passaram os temporais.
Quero sorrir, dançar e viver;
Quero, por fim, não pensar em você.

Chorumelas

Quem foi que disse?
Que para ser filósofo
É preciso um diploma
Ou um segundo idioma?

E que para ser benquisto
Não basta o saber interior
Que ninguém é bem visto
Sem ensino superior?

Que ninguém é músico
Sem aprendizado lúdico
Que sem teoria em vista
Não se é um instrumentista?

Para o inferno!
Todos vocês: Vão para o inferno!

Seu preconceito mecanicista
É o paradoxo suicida
Que dá aos homens asas
Para tolhê-las em seguida!

A morte da moral
É o deslumbre bestial
do homem máquina!
Eu, assim, viro a página...

Meu pensar é em versos
Moro, portanto, em mil universos
Neles, com os estúpidos eu acabo
E os mando ao diabo...

Não me venham, pois, com chorumelas!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Forças poderosas

Eu jurei, em nome da honra quase perdida
Em nome do meu bem-estar
Que eu não seria a ovelha ferida
Que no topo do mundo eu iria estar

Passou um dia, e eu padecia
Como num raio eu desabaria
Não sei com que esta força se parecia
Só sei que ela tudo destruiria


E destruído fiquei por enfrentar
A força que instigou o meu tormento
Tenha eu a força para me levantar
Nunca mais se escute o meu lamento

Não quero sentir minha própria ausência
Ao mesmo tempo, quero viver minha vida
Tenha eu um pouco de paciência
Para achar a cura da minha ferida


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Partida - Parte 4

De uma hora pra outra, começamos a brigar por coisas banais. O sexo já não segurava mais nossa relação, e você cancelou o noivado. Terminamos e voltamos inúmeras vezes, sempre com promessas vãs de que dali em diante tudo ficaria bem novamente. Mas não ficava! Nossos egos, nossos egoísmos, nossas vontades...era foda. As coisas começaram a esfriar, e depois começaram a esquentar novamente, mas num sentido ruim. Numa briga que tivemos, daquelas, você me agrediu na rua, e eu ameacei bater em você. Nos calamos. Tomamos nossos rumos e partimos. Dejávù. Voltamos a nos encontrar para oficializar o término, o segundo término, e foi isso. Eu saí do seu apartamento e fui caminhar na areia, ouvindo as ondas, e aí, novamente, estalo. Sabe, eu ainda te amo, mas durante todo aquele tempo, não era de você que eu sentia saudade, mas sim da imagem de você que eu idealizei dentro de mim. Em alguns momentos você era exatamente o reflexo daquela imagem, mas em outros momentos, não. Creio que o mesmo se passava para você, em relação a mim. Nós não soubemos nos aceitar como éramos de verdade, e por isso nos frustrávamos tanto um com o outro. Sabe, agora eu estou velho, faço 70 anos hoje, e olho para o passado, e vejo que suas qualidades tinham mais peso na balança que os seus defeitos. Eu olho para trás e só vejo nossas glórias, o quanto nos amamos, e o quanto poderíamos ter nos amado, se nossos egos não tivessem influenciado tanto em nosso relacionamento. Eu ainda te amo, de verdade, e espero que você esteja feliz, e que tenha chegado ao mesmo raciocínio que eu, após tantos anos. Hoje nada mais importa. Essa é a ação do tempo. As glórias parecem mais douradas, e o que foi triste, se apaga, além do mais, estou velho demais para remoer tristezas.





quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Aforismos a quem não me lê

Em tudo serei direto
Pois fostes assim também:
Teu hobby predileto
Era pagar com o mal o bem

A distância traz à vida
O valor que tu me dás
Silêncio sem despedida:
Tu não mais retornarás

Quem some no presente
É um defunto do passado
Vivo está quem se ressente
Por ser deixado de lado

Quem fala por assobios
Nem aos pardais se faz entender
Teus muitos sentimentos frios
São o sereno do anoitecer

Se mil aforismos são ditos
A quem carece entender
Estão tapados seus ouvidos
Seus olhos já não podem ver

Deixo então, nesta última estrofe
Uma sentença de muito valor:
Quem pisa num coração nobre
Perde inestimável calor.



terça-feira, 6 de novembro de 2012

Partida - Parte 3

Você atendeu sonolenta. Eu nem lembro que horas era. Conversamos pouco, mas você topou me encontrar no dia seguinte. Era um sábado, e marcamos perto de onde você estava morando, lá em Copacabana. Você estava dividindo apê com uma amiga. A gente se encontrou, você estava linda. Meu coração bateu forte, e logo que nos encontramos te roubei um beijo. Você, de princípio, tentou evitar, mas se entregou. Sua amiga não estava em casa, então fomos para o seu apê e nos amamos como loucos. Você estava menstruando, e montou em mim...eu fiquei todo sujo de sangue, depois te puxei para te chupar, fiquei enxurrado de sangue, você se abraçou a mim, ficou toda suja também...e finalmente gozamos. Cara, que doideira. Parecia que tínhamos matado um porco. Foda-se. Era como nos velhos tempos. Ficamos ali, mas logo me restabeleci e transamos de novo...e seguimos assim até o anoitecer. E quando o sol baixou, já não transávamos mais, mas fazíamos amor. Quando sua amiga chegou, nos pegou nus, exaustos para ter qualquer tipo de reação. Ela viu tudo, riu e saiu pela porta. Pouco depois conseguimos nos levantar, nos lavar e saímos para comer algo. Como de praxe, comida oriental. Conversamos e antes do fim daquele dia tínhamos decidido voltar a namorar. Foi alucinação pura. Você me contou de sua vida, eu te contei de minhas viagens. E assim passaram semanas, meses, passou um ano...porra! A gente planejava noivar. E então, como num estalo, as merdas começaram a acontecer. De novo.





segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Apocalipse num oceano

Era um rapaz, assim, transtornado.Caminhava absorto na música que escutava, mas tão absorto que se um conhecido lhe dirigisse a palavra nas ruas, receberia silêncio como resposta e seria sumariamente ignorado. Não de propósito, afinal ele era uma pessoa muito simpática e nada anti-social, mas por aquilo que ele costumava chamar de sua "lerdeza intrínseca".

E aquela música pesada, densa, era a sua forma de escapar de uma realidade doentia, insana. Era como se, ao se dirigir à guilhotina para ser executado, de repente caísse um enorme feixe de luz do céu, saído de nuvens brancas, e ele por esta luz caminhasse, escapando do inferno até o paraíso. Entretanto, a queda é inevitável, e seu corpo invariavelmente seria queimado pelas chamas da rotina e da loucura humana dos que sobre ele tinham poder e que o cercavam. De segunda a sexta.

Ele arrastava-se da cama, todos os dias, até aquele escritório. Seus colegas? Todos loucos, a exceção de quatro ou cinco. Pode parecer muito, mas dentre o universo dos seus companheiros, é um número pequeno. "Ontem" parece ser uma data especialíssima, pois tudo que se lhe pedia era para aquela ocasião, e quanto mais se lhe pedia, mais o ontem se tornava inalcançável.

No caminho, as conduções deixavam-no desvairado. Espremia-se em troca de uns quilômetros rodados. Cochilos? Sempre acompanhados daquela vibrante música, e jamais se atingia o rapid eye movement. Por um instante ele podia ver o mar, que tinha nele efeito semelhante ao que teria o dedo molhado de saliva que o rico morto implorou a Abraão e a Lázaro, na parábola do Mestre. Mas mesmo assim, o abismo permanecia, e o rapaz desta pequena epopéia seguia rumo ao grande monstro de ferro, que engolia pessoas e expelia pessoas, mas que os digeria ferozmente nas suas entranhas super lotadas.

Ele era fraco? Talvez. Quem sabe isto tudo não passasse de uma narrativa fantasiosa de alguém a fazer tempestade em copo d´água? Talvez. Mas quem se atreverá a dizer que, em seu caso, era um copo d´água? Acaso os copos d´água de uns não seriam os oceanos de outros? Ou quiçá, um universo aquoso? E quem dirá que era uma tempestade? Não poderia ser o armagedom? O apocalipse?

Permanecer vivo durante um apocalipse num oceano não é fraqueza, é coragem. Não se sabe até quando isto vai durar, nem se ele vai passar ileso, mas uma coisa é certa: as cicatrizes da sua alma indicam que não se trata de tempestade em copo d´água. Sua doença é mais severa. Ele busca a cura, sabe como ela funciona, mas precisa implementar o algoritmo que trará o remédio. Tenho fé de que ele conseguirá, para presentear o mundo com sua alegria, sinceridade, e sorrisos. Ele é um sujeito, assim diriam os populares, "sangue bom"...


domingo, 4 de novembro de 2012

Tábula rasa

Tábula rasa? Eu ri daquela criança
Incrédula, em profunda ignorancia
Perdida no fantasioso mundo infantil
Onde nada escapa da simplicidade pueril

Crescem, e crescem as raizes do mal
Estudam, inúteis, o que é legal
E o legalismo adulto lhes tolhe a vida
Tudo se torna uma punição dolorida

O fim derradeiro do ser humano se aproxima
De tanto que encheu sua tábula rasa
Com lixo da morta modernidade
Definhamos com tanto saber
Tolos! Já éramos anciãos
Não se sabe viver
Matagal humano
Plantados no nada
Como ressurgir, então,
Se tudo que restou é inútil?
Onde está nossa moral, nosso conhecer?
Onde é que está a nossa humanidade livre e feliz?
A tábula rasa está cheia de sentimentos robóticos e mecânicos


Meu Julgamento



O Segundo Círculo do Inferno,
Tinha cadeira cativa para mim.
Perder-me-ia no Vale dos Ventos,
Arrebatado por um furacão sem fim.

Em vida fui levado por minhas paixões,
Em morte, o vento me levará,
Já perdi a conta das seduções.
Helena e Cleópatra me esperam por lá.

No entanto, despertei em vida minha ira,
E Minos acha, que o melhor seria,
Sofrer no Estige, e no lago me atira,
Prendendo-me no fundo, onde eu me afogaria.

Minha ira, embora contida,
Prejudicou a boa sorte,
E esta sentença seria merecida,
Se Minos não soubesse a causa de minha morte.

"Sei que traiu pessoas em tempos de paz,
 Deveria sofrer em Judeca,
 No Cocite, ao lado de Satanás,

 Mas te puno por sua causa mortis,
 É o meio mais eficaz.

 Cometeu violência contra si,
 Suicidou-se, eu sei.
 Ao Flegetonte te mandarei.
Tornar-se-a uma árvore,
E será devorado,
Ad Eternum,
Como manda a lei."

sábado, 3 de novembro de 2012

Partida - Parte 2


Eu cheguei em casa, bêbado, tomei água, uma ducha fria, e dormi. Mas dormi de verdade. Não pensei em você, não sonhei, não me revirei. Dormi bem, como não dormia há muito tempo. E finalmente, após semanas, consegui acordar cedo, novamente, para correr. Foi como um elixir. Todo meu desânimo, minha tristeza, tudo agora tinha um novo rumo. Eu precisava seguir em frente, me focar em algo, viver a vida, SER FELIZ! Eu me foquei no doutorado, na gaita, no jiu-jitsu, nas corridas, e até voltei a operar na bolsa! Em poucos meses eu tinha minha tese pronta, já podia me considerar doutor. Na gaita, estava afinadíssimo. Toda festa, reunião de amigos, me pediam para tocar. No jiu-jitsu tinha conseguido a faixa-azul, e até ganhei uns campeonatos. Consegui correr minha primeira maratona, e tinha feito um tempo excelente. Na bolsa consegui alguns lucros modestos, mas progredia a cada dia minha estratégia. E aí, sem preocupação, comecei a viajar...Recife, Buenos Aires, Paris...conheci gente pra caralho! A Lurdinha, o Pablo, a Elisa e o Gustav. Nesse ponto minha vida começou a virar loucura, alucinação. Pulei de asa delta, saltei de bungee jump, participei de orgias, bacanais...bebia pacas, usei drogas, até me prostitui em Paris para comprar uma branquinha. Fiz tatuagens pra caralho, tava todo rabiscado, tava feliz! Eu nem lembrava mais do seu nome. E foi aí que voltei para o Brasil. Faziam 2 anos que não ouvia falar de você.

Chegando aqui, quis ir num restaurante oriental que só me lembrava que eu curtia muito. Muitas lembranças haviam fugido de minha mente por efeito do abuso das drogas. Chegando lá, tudo fez sentido. Era o nosso restaurante. Na parede tinha um mural com foto de frequentadores, e lá estava nossa foto...eu estava sozinho, comecei a beber saquês, e quando dei por mim duas horas haviam passado e eu estava completamente bêbado. Caminhei, e fui me encontrar em frente a porta da sua casa. Puxei a gaita do bolso e comecei a tocar sua música, "Sex on Fire" do Kings of Leon. Sua mãe apareceu na porta e disse que você não morava mais lá. A mulher não quis me dar o endereço, mas me deu seu telefone, após muita insistência. Eu liguei.




quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Partida - Parte 1



Diferente das outras vezes, as coisas não começaram com uma briga homérica, nem com discussão. Você estava mal, disse que ia para casa, e eu, cansado de tudo, simplesmente não interferi. Disse que te acompanharia, mas você recusou. Insisti, e então brigamos. Uma simples ida para casa se tornou o fim derradeiro, e foi aí que minha aflição teve princípio.

Na primeira noite saí com um amigo, fomos num show de rock, bar...finalmente a liberdade! Você nem foi para casa. Foi beber com amigos, conversar, e até dormiu fora de casa. No dia seguinte nos falamos. Nem lembro mais o assunto, faz tanto tempo. Nos dias que se seguiram tivemos conversas amenas, chegamos a nos encontrar e até ficamos. Parecia que ia surgir algo bacana dali. A saudade apertava no peito, e eu queria ter você. Mas, não tardou e brigamos, mesmo sem estarmos juntos. Te mandei mensagens mal-criadas, você idem, e então pedi para que não ligasse mais. O primeiro dia foi triste. Estava acostumado a acordar com você me ligando, indo para o trabalho, e naquele dia você não ligou. A partir daí eu não conseguia mais dormir, a cama de casal era grande demais sem você. Naquela época estava um calor infernal no Rio, e toda noite eu passava rolando na cama, despertando a cada meia hora, olhando se tinha alguma mensagem no celular, mas nada. Foram semanas de noites insones, de buscas infrutíferas por sms´s, de me controlar para não te ligar, ou ainda, para não ir até sua casa com um buquê de flores. Eu te amava, minto, eu ainda te amo, e cada polegada do meu corpo tem saudades de você. Mas um certo dia, andando de ônibus à noite, um pouco embriagado, refletindo, olhando pela janela, que pensei no que você havia dito para mim, logo que terminamos, "eu vou seguir em frente, me entregar ao trabalho", e foi aí que tudo fez sentido.





quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Lua rubra

Nem toda morte é maldade
Nem toda mentira é inverdade
A alegria faz-se virtuosa
Tristeza em polvorosa!

Salve a terra da poesia:
Párnaso, já não és mais fantasia!
Nem todos os olimpos e panteões
Aguentam os rugidos dos leões

Loucos! Quem de vós age assim
Derrubando a árvore da jasmim?
Quem odeia divina fragância
É réu em qualquer instância

Ó vida de imprestáveis ânsias!
De inimagináveis discrepâncias!
Tuas tolas responsabilidades
Quebram o existir em mil partes!

Mas minha poesia é minha alegria
Lembrei daquela que sorria
O destino quer que ela descubra
A luz vibrante da lua rubra

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Contos I (+18)


Sete meses. Sete meses que eles não se viam. E nesses sete meses distantes, ele a excitava com recados, por telefone, com histórias. Embora possamos contar o tempo, não podemos contar quantos orgasmos ela teve nestes sete meses, pensando nele. Ele já havia arquitetado tudo, e para ela seria surpresa, afinal, ele era o Dominador, e ela a submissa. Ela foi buscá-lo no aeroporto, chovia torrencialmente. Ele estava vestido como há 7 meses atrás: jeans, tênis, camisa e um blazer. Ela estava de vestido, meia calça e casaco. A recepção não foi como da primeira vez. Não haviam hipóteses, só certezas. Ela o beijou. Um beijo molhado, lascivo, demorado. Algumas pessoas que se encontravam no saguão do aeroporto se escandalizaram, pois além do beijo, a mão dele adentrou por baixo do vestido dela, mas ela, recatada, interrompeu sua investida despudorada. Ele não gostou, e disse a ela que ela seria castigada por tê-lo interrompido. Ela então sentiu uma mistura de prazer e medo. Ele era forte, vigoroso, e sabia causar dor, quando queria. Saíram então do aeroporto e tomaram um táxi. Ele quis ir para o mesmo hotel que passaram na primeira vez. Devido à chuva, estava um pouco engarrafado; antes tivessem tomado o metrô.

Dentro do táxi, ele não usou as mãos, mas foi mais covarde. Utilizou de todo seu arsenal linguístico, sussurrando obscenidades e putarias que faria com ela no quarto. Ela estava molhada, encharcada, e agora até desejava que ele usasse os dedos, mas ele não o faria. Ela não se aguentou, soltou um breve gemido, que acompanhara o gozo. O taxista, safado, olhou para trás pelo retrovisor e sorriu, e a viagem seguiu, tranquilamente.

Chegaram no hotel. Quarto para dois. Deram os nomes, identidades, e assinaram. Terceiro andar. No elevador, ele não a tocou, nem olhou para ela. Ao descerem no andar, desferiu um violento tapa em sua cara. Aquele era o castigo. Ela não revidou, nem tentou desviar. Após o tapa, puxou seus cabelos e a beijou, enquanto a outra mão ia por debaixo do vestido, só para excitá-la ainda mais. Parou subitamente, e se dirigiu para o quarto, ela o seguiu, como a cachorrinha que era.

Chegando lá, ele se despiu, e sentou numa cadeira. Mandou que ela se despisse, e ficou observando e se masturbando. Com ela nua, a amarrou com sua faixa de jiu-jitsu, a outra ponta da faixa amarrou na cama, e deixou ela deitada no chão, amarrada e vendada. Foi tomar um banho rápido. Ela podia ouvir ele se banhando, o barulho da água caindo do chuveiro, ele assoviando. Até que o chuveiro se desligou. Ela já estava molhada, não via a hora dele começar. Ouvia ele se enxugando, ouvia os passos, até que pôde sentir ele por perto. Ouviu um fósforo sendo riscado. Era ele acendendo a vela. Ele então se ajoelhou perto dela. Começou a beijá-la, intercalava mordendo os lábios dela, e então desceu para o pescoço. Beijava com vontade, mas com cuidado para não deixar marcas. Desceu então para os seios, e chupava e mordiscava sem dó os mamilos dela. Ela gemia. Ao mesmo tempo, pegou um consolo e começou a penetrá-la com ele. O corpo dela vibrava, ela gozava seguidamente. Até que ele parou. O que viria agora? Então ela sentiu. Com uma outra faixa, ele a batia. Mas foram poucas faixadas, pois deram lugar à cera da vela. Ele, vagarosamente, derramava a cera, quente, nos mamilos dela. A dor era saborosa, e ela já estava totalmente louca. Então ele colocou os pregadores nos mamilos, e aí se afastou. Ela não sabe ao certo quanto tempo durou até ele voltar, mas seja lá quanto foi, para ela pareceram horas. Então ela ouviu ele se sentando na cadeira próxima. Sentiu então ele colocando os pés no rosto dela, fazendo com que ela chupasse seus dedos, e ela prontamente o fez, como uma cadelinha de estimação. Depois disso ele começou então a penetrá-la usando os dedões do pé. Ela não esperava, e justamente por ser inesperado, deu a ela mais prazer. Ele então parava alguns momentos e levava os dedões a boca dela, para que ela provasse do próprio gozo, e então cuspia na cara dela. Mas logo voltar a penetrá-la. Ora a batia com a faixa, ora renovava a cera quente nos mamilos, e aquele ritual durou horas. Ele, então, no auge da excitação, levou o pênis à boca dela e gozou, dando a ela seu leite quente. Devido ao tesão dele, o orgasmo foi explosivo, e uma parte espirrou para o chão. Ele então puxou ela pelos cabelos e a fez lamber tudinho. Nenhuma gota podia ser desperdiçada. Então desamarrou-a, libertando-a, aconchegou ela em seus braços e ternamente, a beijou.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Epidemia

Um misto de alegria e otimismo
Com um pouco de paranóia e pessimismo
Células amargas, doces mitocôndrias
Satisfação mental, saudáveis hipocôndrias

O sol emerge na aurora
Abatimento chega em sua hora
Mas assumimos logo a preguiça
E a felicidade, abatida, enguiça!

Enquanto seres infectados
Pela dinâmica ociosa burguesa
Estaremos sempre amordaçados
Com um pão mofado na mesa

Mas se achamos a cura
Da epidemia que nos acomete
Celebraremos o fim da loucura
E a felicidade que a liberdade promete

domingo, 28 de outubro de 2012

A lança mais forte

O que acontece?
Com o escudo mais forte do mundo
Quando, súbito, ele conhece
A lança mais forte, que nele adentra profundo?

Diriam que ambos se espatifariam...
Então corre este perigo comigo
Deixa que esta colisão seja nosso castigo
Para vermos se nossos corpos se amariam...

Quero ver tua resistência, lindinha
Apenas para com ela acabar
Mostrar que com uma agulha e uma linha
Qualquer ferida pode-se costurar

Esquece o passado
E deixa-me um beijo te dar
Deixa seu coração, pela lança mais forte, ser transpassado
Para que o sol possa, para ti, novamente brilhar

Pombeu



Estava lá o pombo,
Na beira da piscina nos fundos da casa.
Tinha acabado de pousar.
A água esverdeada, infectada,
Era nela que sua sede ele queria matar.
Eu observava da janela,
E ele, olhou para mim.
A princípio, sentiu medo,
Mas manteve o olhar.
Esperava que eu o afugentasse,
Que atirasse com meu bodoque.
Mas não, me mantive imóvel.
Aquele maldito pombo hipnotizou-me.
Ele bebia da água da piscina,
E a infectava ainda mais (ou não?).
Quando dei por mim, o pombo era eu,
Que bebia da fonte da vida eterna.