quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O gosto amargo do desprezo

Uma pálida estrela no céu
Cintila ofuscada por mil constelações
Cassiopéia não liga mais para ela
Está muito ocupada vangloriando-se às Nereidas

Uma pálida estrela no céu
Cai sobre nossas cabeças como um raio
Nós não ligamos mais para ela
Estamos muito ocupados fazendo desejos impossíveis


A torta é sempre mais gostosa nas nossas bocas
Do que numa vitrine, exposta aos glutões
Um passarinho na nossa mão é sempre melhor
Do que dois, livres, voando num dia de sol

Que sabemos nós?
Guardamos o gosto do trivial como ouro
E aspergimos desprezo no que não tocamos
Sem saber, ingenuamente nos condenamos
A provar o mesmo gosto amargo do desprezo
Na taça proscrita do desconhecido amanhã
E naquele dia, naquele dia, ó filhinhos
Desejaremos o mundo que não abraçamos
Quando escolhemos a mesquinhez do que possuíamos

Mas aí, será tarde demais:
A estrela cairá dissolvida no ar,
As Nereidas ainda serão as mais belas,
Nossos desejos serão apenas palavras pensadas,
A torta azedará,
O passarinho na nossa mão morrerá asfixiado...

E o gosto amargo do desprezo, esse sim
Voltará furioso, fazendo-se sentir ali
Nas papilas do desespero.

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