domingo, 30 de setembro de 2012

Playboy


Você estava tenso e suava frio,
Mas podia sentir o cheiro do malbec.
Por baixo da jaqueta de couro fino,
Via brilhar o seu rolex.

Convidava-me para entrar no seu jaguar,
E se irritava por eu fazê-lo esperar.
Você queria me ter a qualquer preço,
Mas não era o cara que conheço.

Me chama para sair com dinheiro na mão,
E pensa que me seduz com seu carrão.
Eu quero um homem, não um cafetão.

Se pensa que sou dessas,
Não perca seu tempo aqui.
Encontrará o que procuras,
Na mimosa ou no bar do Kim.

Seppuku

A espada está afiada
A platéia aguarda
Um grupo de gueixas carpideiras chora sem cessar
Estou desonrado.
Meu senhor causou minha desonra.
Minha ikebana plantou-se noutro jardim.
Desembainho a minha lâmina.
Corto meu cabelo e o ofereço em troca da honra perdida.

Suando frio, deixo a espada cair ao chão.
Trêmulo, aguardo amedrontado a minha redenção.
O choro das gueixas deixa-me mais transtornado.
Mas para trazer algo, é preciso deixar outro algo partir
Dou meu sopro de vida, para trazer honra a mim, e à minha família.

Seppuku! Minhas entranhas espalhadas pelo chão...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Serenata boreal para ti

Tomei meu violão, pus-me a tocar
Decorei umas palavras para declamar
Mas tua varanda não está aqui
E minha canção não chegou por acolá

Mas não desisti, pois era um dia especial
Quis festejar como na Páscoa ou no Natal
Chamei-te na latinha transpassada pelo fio
Enquanto fazia um frio tremendo aqui no Rio

Ouvi, distante a tua voz
Mas eu queria mesmo é ver-te a sós
Com mil acordes e versos em embrulhos 
E na cama, sussurros e barulhos

Princesa, conheço teus anseios
Desejos de brincadeiras e passeios
E se me deixas com liberdade concedê-los
O vento da felicidade balançará teus cabelos

Alegra-te por mais uma primavera
Pelo iniciar de mais uma era
Traga felicidade para o teu viver, o destino
E a mim também, em tua porta com flores e um bombom fino

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Mesa de Bar


Conheces o xangô?
Ele perguntou.
O xangô de baker street?
O outro questionou.
Acenou afirmativamente,
E o outro solenemente,
Disse: conheço, mas não li.

Ele então, cheio de pompa,
Fez com o rosto uma careta,
E ainda deu o veredito:
Este livro é uma merda.

O outro, inocentemente,
Perguntou por perguntar:
Já leu o tal livro?
Então ele em sua cadeira,
Começou a afundar.

Fez outra careta,
Esta, mais grotesca que a primeira,
E respondeu com soberba:
Não li, mas posso julgar.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Não falarei de amor

Não falarei de amor
Pois me esqueço da sua face
Nem direi que ele rima com dor
Como se de dor eu precisasse

Se minha arte fosse um espelho
E minha pena fosse luz
Ninguém meteria o bedelho
Na confidência que, de meus olhos, reluz

Mas, como a noite, sou opaco
E singelo como o dia
E neste embalo eu embarco
A procura da alegria

Por isto poupo-vos do tédio
Que me causa dissabor
Não existe nenhum remédio
Hoje não falarei de amor!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Algo sobre o amor


Eu estava um tanto entediado, quando avistei você...
Toda tranquilidade e calmaria,
Você quebrou tudo, você é minha locomotiva. Sabe porquê
Sou grato? Você rompeu a monotonia,

E agora estou aqui em prantos, baby
Pois a saudade corrói no centro.
Então venha aqui, e divida comigo esse whisky,
Já posso sentir um calafrio lá dentro...

Eu sei que fiz promessas, as quais quebrei,
Muitas e muitas e muitas vezes...
Mas querida...não posso apagar o que falei,
Mas repito minha luz e estrelas, eu sei,

Que o que mais quero neste momento em minha vida,
É partilhar isso tudo com você, querida.

Você não estava lá...
A estação? Vazia sem você.
Não, não...olhei para os lados, cadê?
Quando uma vibração em minha coxa anunciou,
Um sms seu,
"Olhe para trás"
...



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Escada... ponto... sala...

Primeiro dia...
Segundo dia...
Terceiro dia...
Opa, agora estamos perto!
Quarto dia...
Quinto dia... Sim! Quinto dia!

Então o tempo sorri , e quando vejo, já estou no primeiro dia novamente sem ter notado direito o sexto e o sétimo dia!

E começa tudo outra vez...

Cansaço, confusões, loucura, responsabilidade... Espírito agitado pela mágica turbulência cotidiana...

Nunca desisti de vencer, e busco alçar vôos para além das nuvens intempestivas. Resta saber quando eu chegarei lá...

domingo, 23 de setembro de 2012

Eu grito

Eu grito
Psicótico como um lobisomem faminto
Doente como o alcólatra bebendo Absinto
Olhando-me no espelho, quase a rachar
A luz do mundo a se apagar

Eu grito
Porque não via nada
O escuro é uma vadia obstinada
Que me assombra na contemplação do futuro
Cobrindo-me com véu obscuro

Eu grito
Pois eu asso na sopa primordial
A maturação da minha carne é um tormento banal
Às cegas tateio o ar ao redor
Esperando sempre o pior

Argh! Cansou-se a garganta
Que gritava por um dia melhor
Deito na cama, sabendo de cor
Que amanhã ao acordar, voltarei a gritar

Desbotado



Perguntei se queria um copo de gim,
Você cantarolou, "I don´t care..."

Lembrei daquele dia, você cantou para mim,
Um sonzinho de 70, interpretado por Bublé.

Já eram 6:30 da manhã,
Hora de você partir.
No rádio Mrs. Jones tocou...

Perguntei se te veria amanhã,
Mas você não estava lá, você só queria ir...
O quanto meu erro te magoou?

Você foi tomar banho,
Ouvi você cantando,
Sua voz era triste,
E o tom brando.

Na despedida,
Não me beijou.
Enquanto rolava uma lágrima, disse sofrida:
"Nossa história acabou."

sábado, 22 de setembro de 2012

Falido




Já estive onde estou agora,
E se um sorriso esbocei outrora,
Não mais a alegria em meus lábios mora,
O que é suportável, com o tempo, só piora.

Você questiona, "o que há de errado?"
E depois vem com sermão.
E me sinto cada vez menos instigado,
A lhe estender a mão.

Reclama. "Dê-me valor",
Mas tanto valor lhe dei,
Que até artimanhas usei...

Verdade, especulei.
E agora, sem capital,
Estou aqui sozinho: Perda total.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Dose homeopática

Se uma overdose não te posso causar
Tampouco quero tuas doenças curar
Sou remédio ciumento de se usar
Sei terriveis efeitos causar

Não me venha com a homeopatia do casual
De ignorar por tantos dias
E depois me falar por motivo banal
Só para refrescar tuas azias

Meu gosto amargo não é para o ardor
Eu vim para que tenhas vida
Não para ser usado como te convém

Sou santo de barro, devagar com o andor!
Tenho o sabor de uma forte bebida
Que não deve ser saboreada com desdém!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Pequenas Coisas



Noticiaram que o mundo acabaria na madrugada,
Mas fui dormir em paz.

Eu sabia onde você estava,
E você tinha se despedido dizendo:
"Eu te amo".
Preciso de algo mais?

Acordei, tudo estava no lugar;
Mais uma especulação.
Te liguei, e mesmo de mau humor,
Foi gentil, e me chamou de "amor".

Meu mundo um dia caiu,
Como cantava Maysa.
Mas você voltou, como o boêmio,
E hoje canto, alegre, sem pranto:
"Meu vício é você".

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Esperar...

A tragédia é iminente
Mas o que temos a fazer
Quando o amor é eminente?
Resta-nos esperar nosso crescer...

Embalado pela noturna nostalgia
Sinto teu cheiro como naquele dia
Em que eu repousava em teu ombro, pura magia
Nauseados pelo balanço da viatura bravia

Eu sei que não me deves tocar
Porque se a tua pele eu sentir
O aperto no peito me fará sufocar
E em pedaços irei ruir

Mas o que fazer, então?
Quando a crise de abstinência é mais forte
Não há como dizer 'não'
A dor só é menos pior que a morte

A minha solidão é a tua escultura
Que esculpistes com a felicidade de um terceiro
Eu não acredito que, em frente à minha sepultura
Assististes, inerte, ao meu fim derradeiro

Eu te esperei, e nada pude fazer
Inútil como falar a um surdo
Queimado como comida demorada no cozer
Sigo em meu mundo absurdo

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Azul


Pegue sua gaita amigo,
Toque um blues.
Vejo estrelas no céu de domingo,
Saudade dos olhos azuis.

Uma dica amigo:
Não realize todas as vontades.
Mimos em excesso,
Só causam retrocesso.
Mas pegue leve no "fuck off".
Do contrário,
Será um lobo solitário,
Vagando sozinho e perdido,
Como eu.

Não ligue se eu não vier visitar.
Tenho estado cansado,
Apenas estou no aguardo,
Do dia em que a morte chamar.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O fio

Será o fio da navalha
Ou o fio dental da criança?
Será o Fio Maravilha
Ou o fio de esperança?

Corre o menino, descalço
Empinando sua pipa, a sorrir
Em seu caminho, nenhum percalço
Da tristeza ele corre, a fugir

De muitos caminhos, um
Há outros, se neste não der
A maravilha está dentro de si

Não é embaraço algum
Se no teu coração não couber
O amor que plantastes ali


domingo, 16 de setembro de 2012

Wake Up Alone - Parte 1


No rádio, Amy cantava "Valerie". Era uma tarde de sábado e apesar do calor de rachar, não estávamos aproveitando nossa piscina. Esta se encontrava suja, as águas verdes, abandonada. De súbito, influenciado pela música, lembrei daquele baile à fantasia, quando te vi pela primeira vez...


Eu já era um fã de Wino, e aquele era o ano de sua morte. Quando, dentre tantas fantasias caprichadas, cheias de pompa, te vejo, desleixada e sem pretensões a prêmios. Um jeans apertado, uma camiseta branca, usada, e uma pintura nos olhos inconfundível. No braço, tatuagens desenhadas: uma ferradura, uma mulher nua, e perto do pulso direito um raio. Este não era desenhado, era realmente seu. O cabelo, meio desgrenhado, como uma colméia torta. Seus lábios carnudos, batom vermelho, e o corpo magricelo, mas com curvas. Olhos grandes, brilhantes, e pele clara. Era Amy, ou melhor, era você.


Se me lembro bem, você estava sentada, meio longe do som alto e das luzes. Semblante triste, mas incrivelmente belo. Seus olhos fitavam algo que não estava ali conosco. Você não estava em nosso mundo, mas além. De repente, sem esperar, você olhou para mim. Fiquei sem graça, pois estava te observando descaradamente, e não soube o que fazer. Paralisei quando vi que você se levantou e vinha em minha direção. O que fazer? Fugir? Nem pensar. Ensaiei na mente algumas palavras, mas aí você chegou e me chamou para dançar, e eu, tonto, só pude reagir afirmando com um aceno de cabeça. Não lembro qual música tocava, mas dançamos colados, e só após uns dois minutos de dança que comentei algo como "Amy, sou um grande fã seu", e você riu, mas não um sorrisinho bobo, mas uma gargalhada gostosa, contagiante. Naquele momento, comecei a me apaixonar. Depois da dança, fomos no bar, e você pediu um martíni,  lembro exatamente. Eu não conhecia a bebida e pedi para provar, acompanhando você. Finalmente, após brindarmos, você me disse o seu nome: Patrícia. P - A - T - R - Í - C - I - A. Falo hoje, pausadamente, para te ter mais aqui. É o meu ritual. Ah, lembro agora. Eu estava fantasiado de médico, e você brincou, disse "doutor, tenho um probleminha com drogas, será que morro de overdose?". A piada foi sem graça, mas gostei do seu humor negro, ácido...como não me apaixonar? 

Depois, fui saber que naquele dia você completava 22 anos, estava comemorando com amigos naquela boate, e o resto da história é clichê. Apaixonada, namorado, melhor amiga, traição. Realmente no dia do aniversário, ninguém merecia, mas você deu a volta por cima. Dançou comigo, bebeu umas e outras, passou um pouco mal, mas eu cuidei de você. E no fim da noite, você aceitou meu convite. Inesquecível para a noite é pouco. Eu praticamente me senti fazendo amor com a Amy, e foi sensacional.