quarta-feira, 11 de abril de 2012

Gunther, o guerreiro da razão, parte 2: O velho ancião

Já havia dias que Gunther saíra de Steinborn. Os seus, que permaneceram no antigo vilarejo, indagavam-se a cada dia onde estaria aquele guerreiro que, silencioso, vagava rumo a um lugar que só ele sabia onde era. Ou talvez nem ele...


Raiou a noite na região transilvana. Gunther, no silêncio mergulhado, matou um porco selvagem e, assou-o numa fogueira que, com muito esmero, preparou. Ao cortar um farto pedaço do suíno e fez uma prece mentalmente, fechando os olhos, num costume que era estranho ao seu povo. Qualquer um haveria de achar extremamente esquisito aquela cena, um viking com comportamento religioso diferente daquele que Thor ou Odin exigia.


De repente, ouviu Gunther o som de galhos partindo-se, como se alguém neles pisasse. Colocou a carne que comia em cima de uma folha, e empunhou a sua espada. Daquela terra escura pela ausência do sol, saiu um homem, velho, vestido com roupas surradas, de barba e cabelo grandes e brancos. Acenou com as mãos, demonstrando inocência e boas intenções. O viking embainhou a espada, e acenou ao velho, mostrando o porco assado e o oferecendo.


Mais uma vez Gunther desafiara toda a lógica. Um viking de verdade teria assassinado o velho sem piedade. Mas a piedade tomou conta dele de tal forma, que não só poupou o ancião da morte, como ofereceu-lhe comida. O velho, então, disse a ele, na sua própria língua germânica:


- Tu, que fazes na floresta? És peregrino?


Gunther acenou com a cabeça que sim.


-"Não falas? Perdeste a língua?", completou o velho.


Gunther acenou com a cabeça que não, e com gestos e gravuras desenhadas no chão com um graveto, deu a entender que estava proibido de falar até chegar ao seu destino.


-"És um homem de fé, certamente. Vamos comer, porque a noite avança e não podemos dormir de barriga vazia", disse o velho ancião, que tomou a carne, deu graças num idioma distinto do que usava para falar com Gunther, e neste exato momento, algo de extremamente sagrado emanou do ancião. Na hora, Gunther caiu com o rosto por terra, abriu seu frasco de tinta, tomou a pena e escreveu num pedaço de pele de carneiro:


"Gloria ad Pater!"

Quando iria mostrar ao ancião, ele desapareceu. Gunther correu para os lados, buscando rastros dele, e nada. Nenhuma pegada, nenhum sinal. Apenas o pedaço de carne por ele abençoado estava ali. Gunther tomou-o e comeu. Abrindo depois o seu livro, leu ali algo que o fez guardar aquele estranho acontecimento em seu coração. Deitou sua cabeça e, fortalecido pela refeição abençoada, esperou o raiar do dia para seguir na sua peregrinação.








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